Até a década de 80, a média da expectativa de vida das mulheres era de 65,7 anos, de acordo com o IBGE. Ou seja, uma mulher entrava na menopausa, por volta dos 50 anos, e tinha uma sobrevida de mais 15 anos apenas. Em 2023, esse tempo de vida médio das mulheres subiu pra 79,7 anos. E a grande pergunta que surge é: como queremos viver a essa vida tão longeva?
Ter 80, 90, 100 anos pode parecer uma realidade distante. Mas a verdade é que precisamos começar nisso aos 40, 50 anos. Afinal, o tempo parece voar nos dias de hoje. A gente pisca, e os filhos crescem, os pais envelhecem, e o nosso reflexo no espelho muda. O envelhecer é inevitável — sim, faz parte da dança da vida. Mas o jeito como escolhemos envelhecer… ah, isso é uma decisão diária.
Tem gente que vai chegando aos 80 só “levando a vida”. E tem quem chegue com brilho nos olhos, planos na agenda e energia pra mais uma aula de yoga ou pra aquele café cheio de riso com as amigas. E você? Se viver até os 80 (ou mais), como quer estar — plena ou apenas sobrevivendo?
A boa notícia é que você pode começar a escrever essa resposta agora. Cada escolha feita hoje — o que você come, como você se movimenta, o que sente, o que pensa e com quem se conecta — desenha o cenário da mulher que você será amanhã.
É preciso mergulhar na revolução da longevidade, mostrar por que as mulheres vivem mais (mas ainda enfrentam muitos desafios de saúde), e revelar caminhos reais para chegar lá com mais vitalidade, propósito e alegria. Porque viver muito é bom. Mas viver bem… isso, sim, é um ato de amor com você mesma.
Longevidade é uma realidade
A longevidade é uma realidade cada vez mais presente. Com os avanços da medicina, da ciência e do estilo de vida, viver até os 80, 90 ou até 100 anos não é mais exceção. A longevidade está cada vez mais presente no horizonte dos brasileiros, mas ela só faz sentido quando vem acompanhada de saúde, autonomia e prazer em estar vivo. E os dados mostram: estamos, sim, vivendo mais — mas ainda precisamos aprender a viver melhor.
De acordo com o IBGE, em 2022 a expectativa média de vida no Brasil era de 77,19 anos. Isso quer dizer que, se você nasceu nesse ano, a previsão é de que viva até quase o final do século. Mas o mais interessante é observar o recorte de gênero: enquanto os homens vivem, em média, até os 73,74 anos, as mulheres chegam aos 80,67.
Essa diferença tem algumas explicações. Há fatores biológicos — como a proteção natural conferida pelo cromossomo X duplicado nas mulheres — mas também comportamentais. Homens, muitas vezes, adiam consultas médicas, negligenciam a saúde preventiva e, com isso, têm doenças detectadas tardiamente, o que diminui a chance de tratamentos eficazes.
Em busca da qualidade de vida
E aí vem a grande pergunta: de que adianta viver mais se a gente não consegue aproveitar a vida? Envelhecer bem não é sorte. É decisão diária. E passa por escolhas que fazemos agora — aos 40, aos 50, ou mesmo antes.
Cuidar da alimentação, movimentar o corpo, dormir bem, ter relações saudáveis, trabalhar com propósito, manter a mente ativa, cultivar o emocional. Tudo isso impacta na qualidade de vida que vamos ter no futuro.
A verdade é que doenças como Alzheimer, Parkinson, osteoporose e demência não são meros “acidentes do tempo”. Elas têm relação direta com os hábitos que cultivamos ao longo da vida.
Se a expectativa de vida está aumentando, o autocuidado precisa acompanhar esse movimento. Principalmente para as mulheres, que vivem mais, mas muitas vezes carregam o peso de múltiplos papéis: mãe, profissional, cuidadora, esposa… e acabam ficando por último na lista de prioridades.
Mas como viver melhor durante todos esses anos? Não basta apenas acrescentar dias à vida. Precisamos colocar mais vida nesses dias.O segredo para uma vida longa, plena e com brilho nos olhos está no autocuidado. E ele não precisa ser complicado, nem exigir perfeição. Basta que seja possível, leve e sustentável.
Mulheres Vivem Mais, Mas Sofrem Mais
A ciência confirma o que muitas mulheres já sentem no próprio corpo: sim, vivemos mais do que os homens — mas com mais dor, mais desgaste e mais batalhas silenciosas. Um estudo publicado na The Lancet Public Health analisou as 20 principais causas de doenças e mortalidade nos últimos 30 anos.
O resultado? As mulheres seguem na dianteira da expectativa de vida, mas enfrentam uma carga maior de doenças não fatais, como dores musculoesqueléticas, transtornos de ansiedade e depressão, enxaquecas e demências. Já os homens, embora morram mais cedo, são vítimas de doenças letais e acidentes, especialmente em idades mais jovens.
Ou seja: eles vão embora antes. Nós, muitas vezes, ficamos… sofrendo mais. Essa realidade se torna ainda mais dura conforme os anos passam. Afinal, por vivermos mais, também carregamos por mais tempo o peso de dores crônicas, diagnósticos mal compreendidos e silenciamentos históricos da saúde feminina. A dor lombar, por exemplo, afeta mulheres em um nível até 50% maior em algumas regiões do mundo. E quando se fala em depressão e ansiedade, a desigualdade é ainda mais alarmante: os números são significativamente mais altos entre mulheres, em todos os continentes.
Mas por que isso acontece? A resposta não está apenas nos hormônios ou nos genes. Está também na forma como a sociedade nos ensina a cuidar (dos outros), silenciar (as próprias dores) e adiar (as nossas prioridades). O estudo diferencia “sexo” e “gênero” justamente para apontar isso: o corpo feminino sofre, mas os papéis que a mulher ocupa — mãe, cuidadora, trabalhadora, guerreira silenciosa — pesam ainda mais na balança da saúde.
Diante disso, fica a pergunta que não quer calar: Viver muito vale a pena se não houver prazer, saúde e autonomia? A longevidade feminina precisa ser revista — com políticas públicas, sim, mas também com escolhas individuais de autocuidado. Precisamos de dados que contem a nossa história com verdade, de acesso equitativo à saúde e, principalmente, de permissão para nos cuidarmos com a mesma dedicação com que cuidamos do mundo.
Soluções para as Disparidades entre Sexo e Gênero
Para a pesquisadora Sorio Flor, o estudo evidencia “uma necessidade urgente de maior atenção às consequências não fatais que limitam a função física e mental das mulheres, especialmente em idades mais avançadas”. Segundo ela, investigações como essa, amplas e comparáveis, são essenciais não apenas para compreender o tamanho das desigualdades, mas também para abrir caminhos concretos para avanços na saúde de homens e mulheres ao longo de toda a vida.
Os pesquisadores também chamam atenção para um ponto fundamental: as diferenças de saúde entre os sexos e os gêneros começam a se manifestar ainda na adolescência. E, se nada é feito nessa fase, essas disparidades se intensificam na vida adulta e chegam agravadas à maturidade. Isso reforça a importância de respostas mais específicas, desde cedo, que previnam o surgimento de doenças e favoreçam o bem-estar integral de meninas e mulheres em todas as fases da vida.
Além disso, os autores ressaltam a importância de coletar e analisar dados que levem em conta sexo e identidade de gênero, para construir políticas públicas mais eficazes, empáticas e equitativas — que enxerguem as mulheres para além das estatísticas de expectativa de vida e considerem as suas reais dores, necessidades e desafios diários.
Mas e na prática, o que pode ser feito?
Caminhos para uma longevidade mais justa e saudável para mulheres:
- Educação em saúde desde cedo: ensinar meninas a reconhecer e acolher seus ciclos, suas dores e emoções, ao invés de silenciá-las.
- Políticas públicas específicas: criar programas voltados à saúde da mulher madura, que contemplem as doenças silenciosas, a saúde mental e o impacto do cuidado excessivo com os outros.
- Acesso ampliado à prevenção: garantir que mulheres tenham acesso gratuito e contínuo a exames, consultas, terapias e acolhimento integral.
- Formação humanizada de profissionais: capacitar médicos e especialistas para ouvir, validar e tratar as dores femininas com respeito e atenção, sem minimizar sintomas.
- Apoio emocional contínuo: investir em redes de acolhimento, psicoterapia acessível e espaços de escuta — como círculos de mulheres e grupos terapêuticos — onde as mulheres possam se fortalecer juntas.
- Dados com recorte de gênero e idade: sem dados, não há diagnóstico coletivo. É essencial que a coleta de informações de saúde inclua o fator gênero e faixa etária com profundidade.
Os 5 Pilares do Autocuidado pra envelhecer bem
Quando falamos em longevidade, é comum pensar logo em alimentação equilibrada e atividade física. E, sim, esses cuidados são importantes. Mas uma vida longa com qualidade exige muito mais do que isso: pede presença, sentido e uma conexão profunda com quem você é — por dentro e por fora.
Segundo a Psicologia Positiva, o bem-estar verdadeiro é construído com base em cinco dimensões essenciais. Elas funcionam como pilares para uma vida mais plena, feliz e resiliente — e são especialmente poderosas para mulheres que passaram anos cuidando de tudo e de todos, mas que agora sentem o chamado para voltarem a cuidar de si.
Se você quer viver mais, viva com intenção. Conheça os 5 pilares que sustentam uma longevidade ativa, consciente e cheia de significado:
1. Bem-estar Físico: Caminhos para nutrir e movimentar seu corpo
Seu corpo é sua casa. E para viver bem, ele precisa ser cuidado com carinho. Pequenas mudanças na alimentação e no movimento diário fazem uma diferença enorme. Aqui, não falamos de dietas restritivas ou de rotina de academia intensa, mas sim de escolhas que respeitam seu ritmo, seus limites e sua fase da vida.
Um corpo bem nutrido e ativo sustenta sua energia, sua autonomia e sua autoestima.
2. Bem-estar Emocional: Gerenciar suas emoções para ter mais equilíbrio
As emoções fazem parte da vida, mas muitas vezes somos ensinadas a reprimi-las. O autocuidado emocional envolve reconhecer o que você sente, acolher suas emoções e aprender a lidar com elas de forma mais leve e consciente.
Neste pilar, você vai descobrir caminhos para lidar com o medo, a frustração e a insegurança com mais compaixão e maturidade emocional.
3. Bem-estar Intelectual: Despertar o prazer pelos novos aprendizados
Uma mente ativa é uma mente viva. Continuar aprendendo é uma das melhores formas de manter sua vitalidade. Você não precisa voltar à escola ou fazer pós-graduação. Pode ser um curso novo, uma leitura diferente, uma conversa inspiradora.
Aprender, aqui, é um ato de prazer e expansão. E quanto mais você aprende, mais jovem sua mente permanece.
4. Bem-estar Espiritual: Conectar-se com sua verdadeira essência
A espiritualidade não tem a ver com religião, mas com significado. É sobre reconhecer o que te move, o que dá sentido à sua existência e o que faz sua alma sorrir.
Você vai aprender a cultivar essa conexão interior com rituais simples, com silêncio, com presença. Uma vida com sentido é uma vida com mais paz e plenitude.
5. Bem-estar Relacional: Fortalecer relacionamentos saudáveis
Não fomos feitas para viver sozinhas. As conexões verdadeiras são um dos pilares mais importantes para uma vida longa e feliz.
Aqui, você vai refletir sobre os laços que valem a pena manter, os que precisam ser ressignificados e como criar relações mais autênticas, respeitosas e nutritivas.
E Você, Como Quer Chegar Lá?
Imagine, por um instante, a mulher que você deseja ser aos 80 anos. Não apenas em aparência, mas em presença, em serenidade, em força interna. Ela tem vitalidade? Se sente em paz com a própria história? Ainda carrega brilho nos olhos e vontade de viver? Agora volte ao presente e se pergunte, com honestidade: você está vivendo hoje como a mulher que quer ser lá na frente?
A verdade é que envelhecer com saúde e significado não é uma consequência automática do tempo. É uma construção. É feita de escolhas que parecem pequenas, mas que se acumulam com o passar dos anos e desenham o futuro. Cuidar do corpo com carinho, da mente com curiosidade, das emoções com gentileza e das relações com verdade é o que pode fazer toda a diferença na forma como você vai atravessar as próximas décadas.
Essa jornada não exige perfeição. Ela pede consciência. Pede que você se coloque no centro da própria vida, mesmo quando o mundo insiste em te empurrar para a periferia das prioridades. Pequenas mudanças diárias, feitas com constância e amor, podem gerar impactos profundos na forma como você vive, sente e envelhece. E nunca é tarde para começar.
Vamos viver até os 80 (ou mais). Mas que seja com alma, com brilho nos olhos e com a certeza de que cada passo foi vivido com intenção. Que não apenas estejamos vivas, mas plenamente despertas — com leveza no corpo, presença no agora e orgulho do caminho que escolhemos trilhar.