Odete Roitman: o que a vilã mais amada do Brasil nos ensina sobre longevidade

odete roitman nos ensina sobre longevidade

Quando Vale Tudo foi ao ar em 1988, o Brasil conheceu uma das personagens mais marcantes da teledramaturgia: Odete Roitman, interpretada magistralmente por Beatriz Segall. Muito além da figura da vilã rica e arrogante, Odete personificava algo que incomodava profundamente: uma mulher de 61 anos, poderosa, vaidosa, sexualmente ativa e dona das suas escolhas. Em uma época em que mulheres maduras eram relegadas ao papel de avós silenciosas ou coadjuvantes discretas, ela chegou como um furacão — e deixou muita gente desconfortável.

Quase quatro décadas depois, a nova versão de Vale Tudo traz Débora Bloch como Odete. E mesmo com o talento e a força da atriz, o impacto já não é o mesmo. Não porque a personagem perdeu potência, mas porque o mundo mudou. Em 2025, a figura da mulher 60+ que viaja, empreende, consome, ama, se exercita e se reinventa não é mais uma exceção — é uma realidade crescente. Odete deixou de ser uma anomalia e passou a ser um reflexo de muitas.

Mas quais as lições que a personagem Odete Roitman nos oferece sobre autonomia, liberdade e longevidade ativa. Porque, sim, até mesmo uma personagem de novela pode nos ensinar que envelhecer não é um fim — é uma nova chance de ser quem se é, com mais coragem, repertório e liberdade do que nunca.

O impacto de Odete Roitman em 1988

Em 1988, Odete Roitman não foi apenas uma personagem marcante de Vale Tudo — ela foi uma ruptura. Numa época em que a televisão brasileira insistia em retratar mulheres acima dos 60 como figuras secundárias, apagadas ou maternalizadas, Odete surgiu como uma afronta à norma. Rica, vaidosa, articulada, com opiniões afiadas e uma vida sexual ativa, ela desafiava todos os estereótipos impostos à mulher madura. Sua existência, por si só, já era um ato político.

Beatriz Segall deu vida a essa mulher com elegância, intensidade e sem concessões. Sua atuação não suavizava os traços controversos da personagem — ao contrário, os escancarava com sofisticação. Odete não era simpática, nem conciliadora. Era ambiciosa, controladora, refinada e incrivelmente poderosa. E o Brasil, acostumado com a ideia de que mulheres acima dos 60 deveriam servir bolo, cuidar dos netos e aceitar o “fim do protagonismo”, ficou escandalizado.

Chamá-la de vilã era a forma mais confortável de enquadrar algo que a sociedade não sabia nomear: o medo da mulher que não precisa da aprovação de ninguém para existir. O incômodo com Odete não era só pelo seu comportamento implacável, mas pela liberdade que ela exercia sem pedir desculpas. O que ela representava — uma mulher que não se apagava com a idade — era revolucionário. E, como toda revolução, gerou resistência.

A nova Odete de 2025: um reflexo do nosso tempo

Quase quatro décadas depois, Vale Tudo volta às telas com uma nova Odete Roitman — agora interpretada por Débora Bloch, que aos 62 anos assume o papel com maturidade, presença e potência. A personagem continua sendo uma mulher refinada, estratégica, vaidosa e articulada, mas o impacto que ela causa hoje é diferente. E isso diz menos sobre a personagem e mais sobre nós, como sociedade.

Em 1988, Odete chocava por simplesmente existir fora do roteiro tradicional da mulher 60+. Em 2025, ela ainda provoca, mas não escandaliza. Isso porque as “novas Odetes” já estão por aí, fora da ficção. São mulheres que mudam de carreira depois dos 50, abrem negócios aos 60, se divorciam, viajam sozinhas, aprendem a nadar ou a falar francês aos 65. Elas não estão tentando parecer jovens — estão ocupadas em parecer vivas. E, acima de tudo, estão protagonizando suas próprias histórias com liberdade, desejo e coragem.

A releitura da personagem em um novo tempo mostra como a cultura muda quando mulheres mudam. A nova Odete já não é um ponto fora da curva — ela é um espelho para tantas outras que se recusam a se aposentar da vida. Se antes ela era uma exceção ousada, agora ela é símbolo de um movimento coletivo que redefine o que é envelhecer com presença, escolhas e autonomia. E isso, por si só, é uma revolução em curso.

 

Liberdade é o melhor lifting que existe

A Odete Roitman da Vale Tudo de 1988 incomodava mais do que a de 2025. E o motivo diz muito sobre a forma como a sociedade enxerga — e teme — mulheres livres que ousam continuar protagonistas depois dos 60.

Interpretada por Beatriz Segall, Odete surgiu em um Brasil que ainda colocava a mulher madura no lugar do silêncio e da doçura. Aos 61 anos, ela era rica, vaidosa, sexualmente ativa e cheia de opinião. Foi chamada de arrogante, cruel, egoísta. Mas a verdade é que o que escandalizava mesmo era a sua liberdade. Odete quebrava o script social: não se recolhia, não se anulava, não se disfarçava de “senhora respeitável”. Ela queria poder. E queria agora.

Na época, o país esperava que uma mulher de 60 estivesse quieta, servindo café para os netos, não desejando nem sendo desejada. Odete sacudiu esse imaginário com sua postura firme, suas roupas elegantes e sua ausência de culpa. Em 2025, Débora Bloch revive a personagem — ainda elegante, poderosa e madura. Mas o impacto é diferente. O mundo mudou. O espanto diminuiu. Talvez porque hoje haja Odetes por toda parte.

Mulheres 60+ viajam, empreendem, se divorciam, mudam de carreira, redescobrem o prazer, dançam, fazem yoga, lideram projetos, começam romances, aprendem uma nova língua. E fazem tudo isso sem precisar da permissão de ninguém. São mulheres que não se aposentam da vida — se reinventam nela. Essa é a nova face da longevidade feminina: não a que finge juventude, mas a que exala vitalidade.

Porque longevidade não é só sobre viver mais. É sobre viver com autonomia emocional, liberdade de escolha, corpo ativo, mente presente e alma acesa. Liberdade é o lifting mais profundo que existe. E não vem do bisturi — vem da coragem de ocupar espaços, de fazer escolhas que atendam ao agora, não à expectativa alheia.

Odete, com todos os seus defeitos, nos lembra disso: que a mulher madura não precisa pedir licença para existir. Ela não é coadjuvante da juventude. Ela é protagonista do tempo presente. E quanto mais Odetes surgirem, mais natural será ver mulheres que seguem livres, intensas e vivas. Com repertório, com presença, com brilho nos olhos — e sem medo de incomodar.

 

As principais lições de Odete Roitman para uma longevidade ativa

Odete Roitman não foi criada para ser exemplo — mas, sem querer, acabou se tornando um. Ao quebrar padrões com sua postura firme, vaidade assumida, opiniões afiadas e presença incontestável, ela trouxe à tona discussões que só agora, em 2025, começam a encontrar espaço real nas conversas sobre envelhecer. Sua figura nos oferece lições poderosas sobre o que significa viver com intenção e protagonismo na maturidade. Abaixo, cinco delas que podem inspirar uma longevidade ativa, viva e profundamente autêntica:

a. Autonomia não tem idade

Odete nunca foi dependente — nem emocional, nem financeiramente. Ela gerenciava sua vida, seus negócios e sua casa com firmeza, mesmo que muitas vezes com rigidez. O que podemos extrair disso é a importância da autonomia como base de uma longevidade ativa. Ter liberdade de decisão passa por ter uma estrutura financeira segura, mas também por construir uma vida emocional estável, onde não se depende da aprovação alheia para existir.

Aos 60+, muitas mulheres vivem o desafio de se recolocar profissionalmente, reestruturar a vida após uma separação ou cuidar de si depois de anos cuidando dos outros. A autonomia pode não vir pronta, mas pode (e deve) ser cultivada. Ela é a chave que abre as portas para escolhas mais conscientes e para um envelhecer com dignidade, potência e liberdade real.

b. Desejo e prazer não se aposentam

Odete vivia seu desejo sem pudores — e isso, para muitos, era um escândalo. Mas sua postura nos lembra de uma verdade ainda silenciada: sexualidade e prazer não têm prazo de validade. Muitas mulheres foram ensinadas a se apagarem sexualmente após os 50, como se o corpo deixasse de ser território de prazer. Mas o desejo não obedece à lógica do etarismo — ele sobrevive onde há conexão com o próprio corpo e permissão para sentir.

Cultivar o prazer — sexual, sensorial, emocional — é uma forma profunda de autocuidado. Resgatar a autoestima, redescobrir o toque, falar sobre desejo com naturalidade são caminhos de cura. Não é sobre ter uma vida sexual performática, mas sobre manter o direito de desejar e ser desejada. E isso não depende da idade, mas da liberdade.

c. Liberdade assusta, mas liberta

Odete era livre — e por isso, temida. Ela não pedia licença para falar, decidir, interromper ou discordar. Essa liberdade, especialmente quando exercida por mulheres maduras, ainda é vista como ameaça. Porque ela rompe com a ideia de que a mulher deve ser discreta, dócil e contida à medida que envelhece.

Mas existe um poder imenso em escolher sem precisar agradar. Dizer “não” com clareza, assumir o “sim” com coragem, mudar de ideia, de plano, de vida — isso é liberdade. E liberdade, como bem mostra Odete, pode causar desconforto… mas também gera vida nova. Porque não há longevidade plena sem autenticidade.

d. Vaidade e autocuidado são formas de expressão, não futilidade

Odete usava roupas impecáveis, maquiagem sóbria e postura elegante. Nunca abriu mão da vaidade — e isso era lido, por muitos, como superficialidade. Mas vaidade, quando vem do desejo e não da obrigação, é uma forma poderosa de presença no mundo. Cuidar da aparência pode ser um ato de respeito por si, não de submissão aos padrões.

Autocuidado não é vaidade vazia — é manifestação de identidade. Escolher um batom, um perfume, uma roupa que te faz sentir bem é uma forma de afirmar: “eu me vejo, eu me gosto, eu mereço me cuidar”. E isso tem pouco a ver com parecer jovem — tem tudo a ver com parecer viva.

e. A maturidade é terreno fértil para recomeços

Se Odete escolheu seguir o próprio caminho aos 60, por que tantas mulheres ainda acham que depois dos 50 não dá mais tempo? A maturidade não é fim de linha — é terreno fértil para recomeçar com mais sabedoria, repertório e coragem. Odete nos inspira a não aceitar que a vida “encerra” após certos marcos sociais.

Novos amores, novas rotinas, nova carreira, novos hábitos, nova versão de si mesma. Tudo isso está disponível, mesmo depois de décadas seguindo outros roteiros. A diferença é que agora a mulher tem mais bagagem — e pode escolher recomeçar com intenção. E talvez essa seja a mais importante das lições: que o tempo vivido é um aliado, não um obstáculo.


Longevidade ativa: não é sobre parecer jovem, é sobre parecer viva

Quando falamos em longevidade, é comum pensarmos apenas no número de anos vividos. Mas existe uma diferença fundamental entre longevidade cronológica e longevidade com propósito. A primeira diz respeito ao tempo que passamos neste mundo. A segunda fala de como escolhemos viver esse tempo — com sentido, com presença, com intensidade. Porque não basta chegar aos 80. É preciso chegar bem, lúcida, inteira… e com brilho nos olhos.

A longevidade ativa é um conceito que abraça esse olhar mais profundo e amoroso sobre o envelhecer. Trata-se de cultivar uma vida longa que valha a pena ser vivida. E, para isso, não basta contar aniversários — é preciso nutrir o que nos mantém vivas de verdade: as conexões que nos sustentam, o movimento que nos impulsiona, o afeto que nos aquece e o prazer que nos renova.

Conexões são antídotos contra o isolamento e combustíveis para a alegria. Laços de amizade, grupos de interesse, conversas sinceras e novos encontros mantêm o coração ativo e a alma nutrida. Envelhecer com sentido é manter-se parte do mundo, envolvida em trocas reais, mesmo (e especialmente) quando a vida muda de ritmo.

Movimento físico é mais do que cuidar do corpo: é afirmar autonomia, independência e vitalidade. Caminhar, dançar, remar, fazer yoga ou musculação — cada escolha de mover o corpo é uma forma de dizer “eu ainda estou aqui, viva e pulsante”.

Afeto é o alimento da saúde emocional. Um abraço, uma conversa olho no olho, um carinho espontâneo ou uma palavra gentil têm o poder de nos lembrar que pertencemos, que somos amadas e que ainda temos muito a oferecer — e a receber.

Prazer não é luxo, é necessidade. Cultivar hobbies, experimentar uma nova receita, ouvir música, viajar, apreciar o pôr do sol ou rir até a barriga doer… tudo isso é vital. Porque o prazer é o que costura os dias com leveza e significado.

Em resumo, longevidade ativa é estar desperta para a própria vida, em qualquer idade. É não viver tentando parecer jovem, mas parecer viva: presente, autêntica, inteira. Uma mulher longeva de verdade é aquela que se permite sentir, experimentar, recomeçar — sempre. E talvez esse seja o maior legado que Odete Roitman, com toda a sua ousadia, nos deixa: o de não abrir mão da própria existência, mesmo quando o mundo espera silêncio.


Que venham muitas Odetes

Odete Roitman pode até ter nascido como vilã de novela, mas o tempo a transformou em algo maior: um símbolo da mulher que não se curva às expectativas alheias. Com sua postura firme, sua liberdade sem culpas e sua presença imponente aos 60+, ela rompeu com os estereótipos da mulher que envelhece em silêncio. 

E mesmo causando incômodo, ou justamente por isso, deixou sua marca como um lembrete de que maturidade não precisa significar apagamento — pode ser, sim, um tempo de potência.

Que a nova Odete de 2025 inspire, mas que a vida real traga muitas outras. Mulheres que ousam viver com intenção, que recomeçam aos 50, aos 60, aos 70. Que trocam a busca por juventude eterna pelo desejo de viver intensamente o agora. Que priorizam seus prazeres, fazem suas escolhas, ocupam seus espaços — sem medo de parecer demais.

Porque no fim das contas, liberdade é o melhor antirrugas que existe. E que venham muitas Odetes: mais vivas, mais donas de si, mais inspiradoras — em todas as telas, espelhos e caminhos da vida.

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